sábado, 2 de outubro de 2010

E ainda, após alguns dias, penso no moço do barraquinho... E naquelas moças bem vestidas e naqueles rapazes com copos de whisky importado nas mãos...

Há alguns dias, no trabalho, me ocorreu uma situação não muito confortável. Bom, vamos nos fazer entender: trabalho em uma empresa administrada pelo governo federal e minha função é de fiscalização agropecuária. Explicadas as circunstâncias, vamos aos fatos.

Eu estava redigindo um documento e, de repente, o chefe do departamento ao qual sou subordinada adentrou a sala onde eu estava, afobado, com o celular em punho, ligando para o chefe de seção, para a segurança, para o coronel, para a polícia... Segundo ele, as terras da empresa haviam sido invadidas (há uma área enorme completamente inutilizada) e me foi pedido então que o levasse, junto com meu chefe direto e mais um funcionário do departamento, até o local onde ocorrera a invasão. Diante das providências tomadas, até tive um certo receio, mas fui até lá.

Chegando ao local, fiquei surpresa: era apenas um barraquinho, feito com restos de madeira e de aproximadamente três metros quadrados. E lá dentro havia um homem, aparentando ter por volta de trinta anos, sujo e maltrapilho. Em sua companhia, alguns móveis, um colchão e aparelhos eletrônicos, todos muito velhos, pareciam terem sido retirados do lixo.

Ele explicara que, na manhã daquele dia, havia construído o barraquinho à margem da rodovia, mas o órgão responsável pela fiscalização pediu que ele dali se retirasse, devido ao alto índice de acidentes. E ele assim o fez, desmontou o barraquinho e o construiu novamente, só que desta vez dentro da cerca, invadindo então as terras da empresa. Eu o vi de longe, mas o homem não aparentava estar embriagado ou sob efeito de entorpecentes. Era um morador de rua, que encontrara naquele local uma possibilidade de se estabelecer.

Neste mesmo dia, fui com meus companheiros de banda em um evento destinado à músicos. Este evento foi realizado por uma emissora de rádio e aconteceu em uma unidade de uma badalada rede de bares, estabelecida em várias partes do mundo. Lá estavam diversas personalidades da cena independente, artistas, músicos, homens e mulheres belíssimos. O ambiente também era muito bonito, com um bela vista para a cidade, pratos elaborados e drinks sofisticados, garçons e garçonetes estilosos e cheios de ginga, e houve também um show de uma banda com projeção nacional.

De fato, a noite fora muito agradável. Mas, em um determinado momento, ao olhar todas aquelas pessoas, rindo, conversando, se divertindo, me peguei a pensar: o que será que aconteceu ao moço do barraquinho? Será que está abrigado, alimentado, protegido do frio? Quando ainda no trabalho, ao fim do expediente, meu chefe ordenou que conferíssemos se ele havia se retirado do local; fui até lá, o barraquinho já estava desmontado, mas não vi que rumo ele tomou...

E ainda, após alguns dias, penso no moço do barraquinho... E naquelas moças bem vestidas e naqueles rapazes com copos de whisky importado nas mãos...


* A análise sociológica fica por conta de cada um!

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